quinta-feira, 21 de agosto de 2014

"Cellos Transparentes" de Adnilo Lotus de Carmim





“O passado faz parte de todos os eras e de todos os fuis.”
Perpassa pela presente obra o passado, sendo este tema tratado de formas divergentes.
De facto, surge-nos o passado como um momento com o qual devemos romper para podermos vivenciar um presente diverso e construir um novo futuro. É neste sentido que três personagens são conduzidas, através da sinuosa estrada da vida, até à casa de Sara e da Vadia. Três personagens que, após uma situação desestabilizadora, lavam
o rosto como forma de purificação em relação à sua vida anterior e entram numa nova vida ao se depararem com uma casa que os parece, estranhamente, atrair. Aí permanecem algum tempo, no qual começam a questionar o seu antigo modo de existência e aquilo que denominavam de Verdade.
 […]

Esta forma poética de escrever já caracteriza a autora: o uso das enumerações. As repetições de palavras com classes morfológicas distintas. As transgressões a nível da pontuação. As construções paralelísticas. As comparações e as imagens que permitem mesmo a identificação de um corpo ou de um olhar com um violoncelo. Todos estes elementos enriquecem a obra de brilho e de luz, de beleza e de profundidade, contribuindo para o efeito catártico de purificação dos sentimentos do leitor.
Em suma, todos estes elementos, desde a construção da narrativa até à caracterização das personagens, através de uma prosa grávida de sentido e de poesia, vão conduzindo o leitor a um crescendo de sensações. De sentimentos. De emoções. Como numa orquestra. Uma orquestra composta de violoncelos. Violoncelos que vão revelando a verdade. Como se fossem transparentes. Violoncelos transparentes.


do prefácio de Cláudia Alexandra Moreira da Silva