quinta-feira, 28 de abril de 2022

"O Silêncio não Dorme" de Magnólia Santos14,00

 

14,00 €

Existe no nosso ordenamento jurídico a figura do “direito ao silêncio”, ou seja, qualquer réu tem o direito, como proteção jurídica, de não responder em tribunal sobre os quesitos das acções de que vem acusado. Se este preceito jurídico se processa individualmente, outro existe na lei geral que protege o cidadão comum do excesso de ruídos. Temos, todos nós, a partir de uma determinada hora do dia, a que os nossos vizinhos, os escapes de motociclos, os transportes públicos, como os aviões, não perturbem o nosso bem-estar.

[…]

Precisamos do silêncio para nos evadirmos de nós, do ruído avassalador das grandes metrópoles. Precisamos, após uma semana de trabalho, de refúgios e por eles, nessa urgência de nos desligarmos da barbárie quotidiana, fugimos para o campo, para a placidez dos grandes espaços onde apenas os pássaros, o vento nos pinheiros, o som de cristal dos riachos, perturbam o silêncio da paisagem. Precisamos desse cíclico retorno às origens, à raiz telúrica do silêncio, antes que o ruído, o seu excesso carregado de violência, destrua a réstia de humano que nos habita.

[…]

Há nesta viagem ao «dorso do silêncio sobre a planície inundada de palavras», como nos diz a autora no enunciado deste livro, que é uma longa e bem informada indagação teórica, percorrendo a poética das vozes mais largas da nossa poesia (e quase todas são evocadas por Magnólia dos Santos neste livro), uma recorrência à palavra “silêncio”, um silêncio habitado por palavras, pelos seus sons, pelos seus oníricos rumores, pelo seu grafismo, pela sua música íntima.

Os autores aqui convocados pela autora evocam o silêncio para o rasgar, para o carregar de palavras, palavras que se atrelam a sons, que mesmo no silêncio com que lemos esses textos, produzem íntimas atmosferas, emoções, lágrimas, júbilos. Quando lemos, algo em nós estremece, se molda, se transfere para o outro. Mesmo no silêncio da leitura existe um lanho, um corte com o silêncio. Após a leitura de um romance, ou de um poema, acontece-nos algo de perturbador, que rompe a solidão e o silêncio. Bergson falava dessa circunstância de outro modo: «Nous a’aurons plus jamais notre âme de se soir».

[…]

É pois da preponderância do silêncio na obra de grandes autores, sobretudo poetas, que este ensaio literário trata. Um ensaio lúcido, expurgado do linguajar academizante, acessível ao comum dos leitores que queiram entender a pluralidade de sinais, de modos de ser, os silêncios agrestes e os silêncios metafísicos, de uma vasta lista de grandes autores.

Magnólia Maria dos Santos fecha este seu ensaio literário, com um belo poema de sua lavra. Um poema pleno de simbologia, também ele em busca da raiz do silêncio.

In prefácio “A Raiz do Silêncio” de Domingos Lobo