«[...] O uso de francesismos será (também e porventura) atribuível ao refinamento da autora. A língua francesa foi, e de certo modo continua a ser, símbolo de status, erudição e elegância. O poema Lascívia ilustra a predileção da autora por empréstimos do francês, ou ainda o título Rien de Rien, onde se destaca a relação intertextual com a chamada chanson française, da qual Edith Piaf foi uma exímia representante, como intérprete, na década de 50 do século XX.
Termos náuticos introduzidos subtilmente, como em Plenitude, indiciam a relação da autora com o mar (em Angola ou em Portugal): a costa, os barcos ou a navegação à vela. O eu-lírico deixa-se levar pelas circunstâncias, pelo momento, pelos elementos, não tendo um caminho predefinido. É uma voz de extremos mas ilimitada que se solta nas e pelas palavras. Já (Untitled), cujo título aparece astuciosamente entre parêntesis, desvenda um ambiente onírico povoado de sombras, de rostos reconhecíveis e de hesitação... a narrativa conduz a escolhas cujo desfecho nem sempre é previsível. Talvez os sonhos sejam também um parêntesis da realidade.
[...]»Do Prefácio de Luisa Fresta