sábado, 6 de abril de 2019

"Código de Borras" de Inês Benedita


12,00€

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O título, Código de Borras, poderia ser transmutado em código de barras, que, sendo uma representação gráfica de dados numéricos ou alfanuméricos, passíveis de serem descodificados pelo leitor de código de barras, também poderia ser aplicável a um livro de poesia. Cabe ao leitor uma atitude ativa para descodificar as palavras com valor simbólico e imagens literárias que, segundo Inês Benedita, no poema Bisturi, são escolhidas com "luvas assépticas, com pinças esterilizadas, abrindo caminho com a precisão de um bisturi, e estas, entre cruzamentos, encruzilhadas, perigos e proibições, avançam, depois de analisadas, medidas e pesadas", numa clara intenção de transportar ao outro, através da descodificação, a singularidade múltipla do sujeito poético, a realidade mínima do mundo onde vivemos, um mundo onde impera todo o tipo de controlo e domínio.
O facto de o leitor do código de barras emitir um raio vermelho que percorre todas as barras, escuras ou claras, sendo a luz absorvida pelas escuras e refletida novamente para o leitor nas claras, também se poderia aplicar a esta ou a qualquer outra obra poética. Os dados captados nessa leitura ótica são compreendidos pelo computador, que, por sua vez, são convertidos em letras ou números. no caso do leitor de poesia, são convertidos em emoções estéticas.
Em tempo de destituição e destruição de alteridade, a poesia assume-se como abertura ao outro, pois quer saber quem ele é, quer abrir-se-lhe, quer misturar-se com o outro. Assim é. Os poemas de Inês Benedita não só dizem algo acerca do eu poético, como expressam algo sobre a própria linguagem, transmitem uma ligação única entre o poeta e a linguagem mas, sobretudo, e paralelamente, permitem que o leitor estabeleça um diálogo íntimo entre as palavras do poema e a sua própria individualidade.
A poesia pode alterar as nossas vidas ou fornecer-nos elementos para transformações, porque nos afeta, mesmo que não compreendamos muito da sua força.
Ela assume-se como um sustentáculo de intensidades, um arquivo de intensidades, uma disponibilidade de intensidades que em algum lugar se encontram com as nossas, ditas e caladas. Daí podermos definir a poesia como um diálogo entre o poeta e o leitor através do uso estético da linguagem.

do Prefácio do professor Carlos Sá


Livros da autora
publicados pela editora Modocromia